Saudações leitor noturno!
Hoje é Dia Internacional da Mulher, e é claro que temos uma lista de leituras para você celebrar a data!
Quando a gente pensa em literatura de terror, literatura fantástica ou de ficção científica os primeiros autores que vem a cabeça são na sua maioria homens: Edgar Allan Poe, Stephen King, H.P.Lovecraft etc. Mas todos esses gêneros literários devem muito ao talento feminino. Isso é especialmente verdade no caso da literatura de língua inglesa. Afinal Mary Shelley praticamente criou o gênero de ficção científica com o seu “Frankenstein”, “Os Mistérios de Udolfo” de Ann Radcliff foi um dos alicerces sobre os quais a literatura gótica se estabeleceu e “A assombração na Casa da Colina” de Shirley Jackson é considerado um dos melhores, senão o melhor, livros sobre uma casa mal-assombrada já escritos. Aliás, durante o século XIX, a era de ouro da história de fantasma na literatura inglesa e americana, boa parte (segundo alguns estudos, a maioria!) dos contos e histórias arrepiantes publicadas em revistas e periódicos eram escritas por mulheres.
Por isso mesmo é difícil compilar uma lista que inclua todas as autoras cujas obras já nos fizeram sentir aquele calafrio familiar. A lista está longe (MUITO longe) de ser completa, mas contempla algumas das autoras e obras que nenhum fã do terror e do fantástico pode deixar de ter na estante!
Obs: A fim de tornar a lista mais acessível, dei preferência a autoras já traduzidas no Brasil, o que, infelizmente, excluiu nomes de autoras maravilhosas. Mas falaremos delas em outros posts, e você pode encontrar um pouco das obras delas nas traduções publicadas aqui no blog!
Angela Carter

Escritora, poeta e jornalista, Angela Carter era também uma estudiosa de folclore e contos de fadas e intelectual feminista. Incluída na lista de “50 maiores escritores ingleses desde 1945” pelo jornal The Times , ela escreveu diversos romances e contos, e também foi editora de várias coletâneas de contos de fadas além de ter traduzido a obra de Perrault para o inglês. Ela também foi roteirista do filme “Na companhia dos lobos” (dirigido por Neil Jordan), baseado em dois de seus contos. Sua obra tem elementos de surrealismo e realismo mágico, e aborda temas como o feminino, sexualidade e violência.
O que ler:
“A menina do capuz vermelho e outras histórias de dar medo” : Angela Carter editou duas coleções de contos de fadas do mundo inteiro para a editora Virago em 1990 e 1992. Neste volume se encontra uma seleção dos mais assustadores
“A Câmara Sangrenta”: O livro mais famoso de Angela Carter no qual ela combina temas de contos de fadas com teoria feminista e uma boa dose de horror gótico para criar contos sombrios, sangrentos e surreais.
Ann Radcliffe

“O Castelo de Otranto” de Horace Walpole costuma ser considerada a obra fundadora da literatura gótica, mas foi Ann Radcliffe com “Os Mistério de Udolfo” que o gótico se estabeleceu como gênero. Enquanto outros textos góticos apresentavam a tendência a cair no melodramático, Radcliffe criava personagens fortes, tramas complexas, e sua técnica de dar explicações racionais a fenômenos aparentemente sobrenaturais fez com que muitos começassem a levar a literatura gótica mais a sério. Suas protagonistas femininas estavam em pé de igualdade com seus protagonistas e vilões masculinos, o que lhe permitiu criar novas possibilidades para estas personagens além da heroína frágil e atormentada.
O que ler:
“Os Mistérios de Udolfo”: Considerado o romance gótico por excelência, a obra tem muitos dos elementos que se tornariam marca registrada deste gênero: castelos abandonados, horrores reais e psicológicos e um vilão maquiavélico. A protagonista Emily St.Aubert é uma jovem inteligente e determinada que tem que escapar das maquinações de Montoni, que deseja tomar posse da fortuna da tia de Emily, Mme. Cheron.
Caitlin Kiernan

Caitlin Kiernan rejeita o rótulo de “autora de livros de terror”, mas suas obras de ficção científica e fantasia são arrepiantes o bastante para ter lhe garantido não um, mas dois prêmios Bram Stoker, da Associação de Escritores de Horror. Mas é verdade que seu estilo não tem os elementos “clássicos” do horror. Seu foco é muito mais na ambientação, atmosfera e construção de personagens que na narrativa em si. O resultado são histórias fantásticas, cheias de elementos mágicos e personagens únicos
O que ler:
“O mundo invisível entre nós”- Coletânea de contos nos quais as fronteiras entre o real e o sobrenatural/surreal são fluídas, e demônios, monstros e bruxas servem quase como alegorias para temas bem reais como a transexualidade e a violência de gênero.
“A menina submersa”: Uma história de amor vista através do olhar de uma protagonista esquizofrênica. na qual lembranças, fantasia e autorreflexão se combinam para criar um caleidoscópio narrativo.
Charlotte Perkins Gilman

Charlotte Perkins Gilman se auto-definia como uma “humanista”, e além de seus trabalhos de ficção também escreveu diversas obras de não ficção que examinavam a posição da mulher dentro de uma estrutura social e econômica profundamente patriarcal. Suas obras de ficção refletem seu ponto de vista feminista, que exploram as consequências da repressão sobre a mulher e seu confinamento a esfera doméstica, que a impede de contribuir intelectualmente para a sociedade. Apesar de não ser uma escritora de terror, merece um lugar nesta lista graças à sua obra mais famosa: “O papel de parede amarelo”
O que ler:
“O Papel de Parede Amarelo”- A protagonista sofre um lento colapso mental graças ao isolamento imposto por seu marido, que usa uma suposta preocupação com a sua saúde para controlá-la e mantê-la em casa. Um horror que vai muito além de fantasmas e assombrações;
Helen Oyeyemi

Nascida na Nigéria e criada em Londres, Helen Oyeyemi escreveu seu primeiro livro aos 18 anos. Começando a carreira como “adolescente prodígio”, ela se estabeleceu como uma escritora madura, com seu estilo próprio. Suas histórias são como contos de fadas sombrios cheios de sonho, morte, sobrenatural e misticismo. Questões de identidade, espiritualidade e desconforto cultural também abundam na obra da Nigeriana que cresceu no Reino Unido e hoje vive na República Tcheca.
O que ler:
“A menina Ícaro”. Em sua estreia como escritora, Oyeyemi mistura o sobrenatural com elementos da mitologia iorubá para falar da busca por identidade através da história de Jess, de 8 anos, filha de um inglês e uma nigeriana, que, ao visitar a terra da mãe, descobre ter uma misteriosa sósia.
Mariana Enriquez:

O Realismo Fantástico é um dos estilos que mais marcaram a literatura latino-americana desde o século XX até hoje. Do México à Argentina, passando por Brasil, Chile e outros, esse é um gênero literário verdadeiramente panlatino, com representantes em todo o continente. A escritora e jornalista argentina Mariana Enriquez honra a tradição ao combinar cenário urbanos e aparentemente banais com elementos apavorantes, mitos, superstições e o lado mais sombrio daquilo que é puramente humano.
O que ler:
“As coisas que perdemos no fogo”: Uma coleção de doze contos que exploram o lado macabro da vida cotidiana. Assassinatos, suicídios, magia, sobrenatural, violência, pobreza, drogas, os próprios fantasmas da história argentina e outros terrores assombram a suposta normalidade do dia-a-dia.
Mary Shelley:

Mary Shelley dispensa apresentações. A Autora de Frankenstein é velha conhecida de qualquer fã de terror que se preze. Filha da filósofa e ativista feminista Mary Wollstonecraft e do filósofo politico William Goldwin, Mary escrevia desde criança e incorporava elementos de vários estilos literários em sua escrita, assim como conceitos filosóficos e políticos. Em sua obra, ela aborda temas que incluem a ética científica, o humanismo e o lugar do individuo frente à história e à natureza.
O que ler:
“Frankenstein”- A história de como Victor Frankenstein decide brincar de Deus e criar vida por meios artificiais é o grande marco da ficção científica e segue sendo relevante e perturbadora.
“O último homem”: Com a morte de seu pai, Lionel Verney cresce negligenciado e cheio de rancor, mas graças à amizade e influência de Adrian, ele começa a se interessar por filosofia e acaba ingressando na carreira política. Mas uma misteriosa doença se espalha pelo mundo…
Toni Morisson:

Romancista, ensaísta, editora e professora universitária, Toni Morisson foi uma das principais vozes da literatura afro-americana dos séculos XX e XXI. Tanto em sua obra de ficção quanto em seus escritos acadêmicos, ela aborda temas como o racismo, a violência sexual e doméstica, o abandono, pobreza e a pesada carga histórica da escravidão e do preconceito nos Estados Unidos. Apesar de, tecnicamente, não ser uma escritora de terror, seus romances estão carregados de horrores quotidianos e históricos, narrados em um estilo elegante e poético que apenas aumenta o impacto dos temas dolorosos que aborda.
O que ler:
“Amada”- “Amada” conta a história de Sethe, que fugiu da escravidão no sul dos Estados Unidos com os filhos. Anos depois, livre e vivendo em sua própria casa com a filha Denver, Sethe é assombrada por um fantasma nascido de um ato desesperado. Quando Paul D, que também fugiu da mesma fazenda que ela, aparece e os dois se aproximam, o passado volta para atormentá-los.
Shirley Jackson:

Assim como Mary Shelley, Shirley Jackson é uma autora que dispensa introduções. Um dos grandes nomes da literatura de terror e mistério, Jackson escreveu mais de 200 contos e seis romances em uma carreira que durou duas décadas. O conto “The Lottery” (“A Loteria”), foi o princípio de sua reputação como mestra do horror, e nele já vemos as características que dão ao seu estilo o tom arrepiante que a consagrou: seu olhar direto sobre a crueldade e egoísmo humanos, e sua capacidade de criar uma atmosfera tensa, opressiva e apavorante com uma prosa enxuta e sem floreios.
O que ler:
“A assombração da casa da colina” – Ignorada por sua família e sem um senso de propósito depois de ter passado a vida inteira cuidando de sua mãe doente, Eleanor Vance é convidada para participar de um estranho “estudo”. Uma narrativa que oscila entre o psicológico e o sobrenatural, criando uma sensação de paranoia que prende o leitor do início ao fim.
“Nós Sempre vivemos no castelo”- Merricat Blackwood, sua irmã Constance e o tio Jules vivem isolados, desde que os pais das irmãs foram misteriosamente assassinados. O povo da cidade, convencido de que Constance é a assassina, ignora e hostiliza a família. Mas a chegada de um primo quebra esse isolamento…
Susan Hill:
Crítica literária, editora, autora de inúmeros livros, contos e até de livros infantis, a inglesa Susan Hill é, de uma certa forma, um escritora fora de seu tempo. Ela escreve em uma prosa gótica que tem todos os elementos das clássicas histórias de fantasma vitorianas, com suas grandes casas antigas, fantasmas diáfanos, crianças assombradas, tragédias familiares e protagonistas solitários. Seu estilo é profundamente atmosférico, envolvente e cheio de suspense. Em suas histórias, ela constrói imagens de uma Inglaterra aristocrática e nostálgica que esconde segredos sombrios.
O que ler:
“A mulher de preto”- O jovem advogado Arthur Kipps é contratado para cuidar do inventário da falecida Sra. Drablow, uma viúva rica que vivia sozinha em uma mansão isolada. Ao tentar organizar a documentação, Kipps começa a ouvir ruídos estranhos e presenciar eventos inexplicáveis na velha mansão…