Aventura, crime e horror: O mundo dos infames Penny Serials Vitorianos. [Parte 1: Escapismo, literatura e delinquência]

Saudações, leitor noturno!

No meu último artigo, sobre a escritora Mary Elizabeth Braddon, falei um pouco sobre os Penny Serials, mas esse gênero literário britânico pouco lembrado hoje em dia foi um verdadeiro fenômeno editorial na era vitoriana e merece um pouco mais de atenção. Cercado de polêmicas, criticado por uns e amado por outros, o Penny Serial foi um dos primeiros fenômenos de cultura e literatura em massa, e deixou uma impressão sobre a cultura popular, inspirando gêneros diversos como aventura, terror, quadrinhos e até livros infanto-juvenis.

Então, vamos mergulhar no mundo desses livros polêmicos e descobrir sua influência na cultura vitoriana e também na cultura popular que consumimos até hoje.

Penny Dreadful, Penny Awful, Penny Blood? O que são esses tais “Penny Serials”?

Se você gosta de séries de terror ou suspense e de filmes e séries de época com uma pegada mais “dark”, é bem possível que já tenha ouvido a expressão penny dreadful. Esse é o título da série protagonizada por Josh Hartnett e Eva Green, inspirada não apenas em elementos da literatura mais clássica da época vitoriana, mas também nos populares penny serials, livros baratos cuja histórias iam desde de aventuras até o terror, e geralmente eram recheadas de violência.

É bem comum ouvir o termo penny dreadful sendo usado em referência a todo o gênero do qual vamos falar nesse artigo, mas esse uso é uma generalização incorreta. Por isso antes de começar nosso passeio por esse gênero literário, precisamos fazer algumas distinções.

Pôster Penny Dreadful - Pôster 1 no 1 - AdoroCinema
“PennyDreadful” é uma série criada e produzida por John Logan para o canal Showtime.

No livro “Penny Dreadfuls: Sensational Tales of Terror”, o autor Stefan Dziemianovicz define todo o gênero literário que vamos chamar de “penny serials” como: “publicações baratas que proviam narrativa populares e eletrizantes, principalmente para a classe trabalhadora” A palavra penny faz referência ao preço dessas publicações, uma moeda de 1 penny, portanto os estudiosos tendem a usar penny serials ou penny fiction para abarcar todo o gênero.

A expressão “penny dreadful” (ou as menos comuns “penny awful” ou “penny blood”) era um termo cunhado por críticos para se referir de forma pejorativa a essas publicações baratas e populares. Esses termos eram usados coloquialmente, e continham um juízo de valor bem escancarado sobre o que esses críticos pensavam do conteúdo dos penny serials: “dreadful” e “awful” são palavras que significam “terrível” e “horrível”, já “blood” significa, é claro, “sangue”. Essas palavras aludiam ao conteúdo violento e supostamente “imoral” e “nocivo” dos penny serials (vamos voltar a esse assunto já, já)

Sweeney Todd degola uma de suas vítimas no Penny Blood “The String of Pearls”. 1850 (fonte: wikicommons)

Apesar de parecer meio “tudo a mesma coisa”, havia muitas diferenças entre os vários tipos de penny serials. Os estudiosos tendem a dividir o gênero em duas “categorias”: penny bloods e penny dreadfuls (ou penny awfuls). Os penny bloods tinham mais elementos de terror e horror, herdados do romance gótico do fim do século XVIII, violência mais explicita e temas mais maduros. Geralmente atraíam leitores adultos. Já os penny dreadfuls tinham mais elementos de suspense e aventura, e eram menos sangrentos, com um enfoque maior em histórias de detetives e bandidos, às vezes com algum elemento sobrenatural. Eram mais populares entre leitores mais jovens, especialmente meninos e rapazes.

A fim de facilitar nossa vida, nesse artigo vou usar o genérico penny serials para falar de ambos, a não ser quando seja necessário fazer uma distinção.

Os penny serials foram um fenômeno editorial de massa entre aa décadaa de 1830 e 1890. Os editores contratavam escritores que produziam textos em uma velocidade e volume alucinantes, e esses textos eram “jogados” no mercado em edições baratas e ilustradas de grandes tiragens e vendidas não apenas em bancas de jornal, mas também em todo o tipo de comércio desde mercearias e açougues até barbearias. Aqueles que caíam nas graças dos leitores continuavam a ser publicados por tanto tempo quanto fossem vendáveis.

Anúncio de publicação do penny dreadful “Spring Heeled Jack: The Terror of London”, 1860 (fonte: wikicommons)

As histórias, por vezes bem rocambolescas, cheias de bandidos, maníacos, piratas e assombrações vendiam mais que sorvete no verão. O público leitor, principalmente pessoas da classe operária e adolescentes, consumiam esses livrinhos com o mesmo fervor com que nós consumimos videogames, filmes e séries hoje em dia. Nas palavras de Springhall, os penny serials eram “a forma de escapismo mais atraente e barata para jovens comuns.”

Mas como essas publicações baratas se tornaram um fenômeno de cultura em massa, em uma época em que aquilo que conhecemos como “entretenimento de massa” ainda nem existia? Para responder essa pergunta, temos que entender quais foram as circunstâncias que permitiram que os penny serials existissem e circulassem.

Industrialização e alfabetização: a receita para criar um público leitor.

Como já vimos brevemente no artigo sobre Mary Elizabeth Braddon, o século XIX foi um período de rápidas e profundas mudanças econômicas e reformas sociais no Reino Unido. Várias dessas reformas tinham a ver com a questão da educação. O parlamento britânico aprovou diversas leis que estabeleciam e organizavam um sistema de educação pública em massa. Em parte, esse processo foi incentivado por reformistas que genuinamente interessados em melhorar as condições de vida da população, mas o incentivo mais decisivo veio dos industrialistas. Com a Revolução Industrial e a expansão das manufaturas, estes homens de negócios começaram a considerar que o investimento em educação básica poderia ser uma importante estratégia para capacitar seus trabalhadores e torná-los mais produtivos e disciplinados. Esse argumento encontrou eco na classe política que viu na educação uma ferramenta para ajudar o país a manter e expandir sua hegemonia econômica e fortalecer a expansão colonial, o que muitos viam como uma espécie de “projeto civilizatório.”

Comentário da revista Puck sobre a reforma educacional: “antes tarde do que nunca” (fonte: wikiwand)

O interesse econômico e político foi a força motriz para que fosse apresentada e aprovada a Lei de Educação de 1870, que previa o estabelecimento de escolas leigas (isto é não religiosas) em áreas carentes, que ficariam sob a jurisdição de conselhos de educação localmente eleitos. Nestas escolas, todas as crianças receberiam uma educação básica que incluía a alfabetização e os rudimentos de matemática. Graças a essa legislação, os níveis de analfabetismo no Reino Unido caíram drasticamente em poucos anos.

A alfabetização em massa abriu as portas para uma nova forma de entretenimento: a leitura.

Historicamente, o hábito de ler, por diversão ou para estudo, sempre foi um privilégio das elites, não só devido ao acesso restrito à educação, mas também devido ao alto custo dos livros e materiais de leitura. Antes do processo de edição industrializado, livros eram produzidos em pequenas manufaturas com prensas manuais, as tiragens eram pequenas e só pessoas com mais renda podiam comprá-los. No século XIX também era possível fazer assinaturas com as chamadas “bibliotecas ambulantes”, o que era mais barato que comprar os livros, mas ainda representava um gasto inacessível para a maioria. Com a industrialização veio o uso de máquinas de impressão e encadernação mais modernas e eficientes, assim como o desenvolvimento de fórmulas mais econômicas para a fabricação de papel tornaram a impressão de livros muito mais rápida e barata.

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Interior de uma livraria, 1828. (fonte: Princeton University Graphic Arts Aquisitions Collection)

Não foi só o avanço tecnológico que permitiu a queda do preço de materiais de leitura, mas também a abolição dos impostos sobre impressos como jornais e panfletos. Esse imposto foi incialmente estabelecido no início do século XVIII, no reino da rainha Anne, para custear a guerra com a França, mas no fim do século, seu propósito passou a ser mais político do que financeiro. Depois da eclosão da Revolução Francesa, o imposto sobre os impressos se tornou uma forma de suprimir a circulação de publicações independentes que poderiam disseminar ideias revolucionárias. Isso gerou muitas críticas e oposição, pois o imposto passou a ser visto como um “imposto sobre o conhecimento”, até que o tributo foi abolido em 1836.

A cylinder press
Prensa de cilindro (F.J.F. Wilson and Douglas Grey Modern Printing Machinery, 1888)

O aumento da população alfabetizada e a diminuição dos custos de publicação representaram a combinação perfeita para que editores investissem pesadamente em publicações baratas voltadas para um público mais popular. Isso, é claro, explica a popularização de revistas, periódicos e romances em série, como já vimos no artigo “Fantasmas no Natal”, mas o que explica a explosão de popularidade dos penny serials especificamente?

A genealogia dos Penny Serials

Os penny serials são o resultado não só das condições econômicas que permitiram o surgimento de um tipo de literatura barata voltada para o público trabalhador, mas também são herdeiros da popularidade de outros gêneros de publicação que já circulavam antes. Essa “genealogia” inclui o Romance Newgate (Newgate Novel), o Romance Sensacionalista (Sensation Novel), o Romance Gótico e os panfletos Broadside.

O romance gótico é nosso velho conhecido, e é bem fácil identificar sua influência nos penny serials. A ênfase em temáticas mórbidas, histórias cheias de maquinações maquiavélicas, tragédias, vilões sinistros, protagonistas atormentados e passionais e a ocasional assombração são claramente elementos herdados do romance gótico. Porém o penny serial tira suas características mais tétricas de outros gêneros. Enquanto o romance gótico é, inegavelmente, lúgubre, sua atmosfera obscura tem mais a ver com paixões e emoções, traumas, segredos familiares, enfim “desvios” e dramas de caráter mais intímo e psicológico. Os penny serials não tinham tanta sutileza assim. Seu conteúdo é bem mais “explosivo”: crimes, transgressões das normas sociais e violência.

Esse aspecto do penny serial é uma herança direta do Romance Sensacionalista, do Romance Newgate e dos Broadsides. Já falamos do Romance Sensacionalista no artigo sobre Mary Elizabeth Braddon, mas não custa relembrar: consumidos principalmente pelo público feminino, esses romances geralmente tem uma protagonista feminina que, de alguma forma, transgride as normas sociais, seja por um comportamento considerado fora dos padrões vitorianos de moralidade, seja por algum envolvimento direto ou indireto com algum ato ilegal ou imoral. Os romances sensacionalistas continham alguma violência (menos do que os penny serials, porém certamente mais dos que os vitorianos achavam adequado para a leitura feminina), mas a ênfase está no aspecto “escandaloso” e melodramático das narrativas: traições, triângulos amorosos, bigamia, etc.

Para saber de onde vem a propensão dos penny serials para exploração da violência e da criminalidade, temos que nos voltar para o romance Newgate e os Broadsides.

Broadside anunciando uma execução. C.1864. (Fonte: Harvard Law School Library Historical & Special Collections)

Broadsides tinham esse nome por serem publicados em folhas largas de jornal (broad=largo), impressas de um lado só (side=lado) como pôsteres. Eram panfletos com anúncios de eventos, venda de produtos e notícias, assim como relatos de crimes, julgamentos e execuções. Aqueles com temática de crime eram vendidos durante execuções públicas entre os séculos XVI e XIX. Já os romances Newgate surgiram a patir de uma forma de publicação similar. Sua origem está no Newgate Calendar (Calendário Newgate), um periódico mensal sobre julgamentos e execuções que começou a ser publicado no século XVIII pelo diretor da penitenciária de Newgate, em Londres. Com o passar do tempo, essa publicação, que inicialmente era mais como um jornal, foi ganhando ares de romance policial, com texto dramáticos e ilustrações. O interesse do público por essas descrições sensacionalistas das aventuras e desventuras de criminosos acabou levando à criação de um gênero literário específico, conhecido como Newgate Novel ou romance Newgate. Suas narrativas exploravam o submundo do crime. Claro que esses produtos literários eram apresentados como um tipo de literatura “moralizante”, que teria como objetivo mostrar ao leitor as consequências trágicas do crime e incentivar comportamentos corretos. Na realidade seus editores apenas lucravam com o interesse mórbido do público pela violência, ao melhor estilo de certos programas de televisão cujos apresentadores juram que prestam um “serviço social” quando exploram a violência para conseguir audiência.

Newgate Calendar, com um artigo sobre o Reverendo Thomas Hunter, executado pelo assassinato de duas crianças. C.1824/1826? (Fonte: Pazoobooks)

A combinação destes estilos literários que já eram muito populares por si só, era uma aposta certa para atrair leitores das classes trabalhadoras que, com acesso à alfabetização e uma (bem relativa) melhoria de padrões de vida, com mais horas de lazer e uma renda um pouco mais alta, estava pronto para se tornar público-leitor. Os editores, é claro, correram para se aproveitar desta oportunidade. Era preciso produzir muito conteúdo e bem rápido. Então contratavam escritores que estivessem dispostos e fossem capazes de produzir muito volume de texto. Esses escritores eram chamados de “hack writers”.

O termo “hack” dá a idéia de “charlatão” ou “espertalhão”, o que seria uma referência a forma “afobada” como esses escritores trabalhavam que se supunha, dava origem a textos de qualidade duvidosa. É uma denominação injusta. Muitos dos escritores que se dedicavam aos penny serials eram profissionais competentes e até famosos como Elizabeth Braddon e Louisa May Alcott. Estes profissionais, frequentemente, estavam em início de carreira ou em dificuldades financeiras, por isso escreviam penny serials, muitas vezes usando pseudônimos, para conseguir uma “entrada” no mercado editorial ou para ganhar dinheiro rápido. A proverbial “baixa qualidade” dos penny serials era bastante alardeada pelos críticos, com algum exagero, mas não inteiramente sem razão. O problema não era necessariamente a qualidade do trabalho dos escritores, mas sim o caráter do processo de publicação. Como os penny serials tinham que ser publicados rapidamente e em grande número, o processo de revisão e edição era quase inexistente, e autores competentes muitas vezes se viam forçados a escrever meio “de qualquer jeito”.

Outra questão que influenciava na qualidade do material era a maneira como os penny serials eram comercializados. Os editores colocavam diversos títulos diferentes à venda para ver quais atrairiam mais leitores. Os que não vendiam bem eram cancelados, e os que vendiam, continuavam a ser publicados. Uma vez que ficava claro quais eram os favoritos do público, esses títulos específicos não apenas continuavam a ser publicados, mas continuavam a ser publicados por tanto tempo quanto os editores achassem necessário para vender o maior número de cópias. Muitas vezes isso resultava em histórias que eram tão “esticadas” que nem mesmo o escritor mais talentoso era capaz de manter a qualidade do texto.

No entanto, qualidade do texto não era a única preocupação dos críticos.

A “terrível” influência dos penny serials.

Como vimos, os penny serials eram o material de leitura mais barato e acessível para uma grande parcela da população, e era também uma forma acessível de escapismo. O trabalhador na era vitoriana passava longas horas na fábrica, em condições geralmente insalubres. Apesar do relativo aumento da renda ao longo do século XIX, os salários ainda eram baixos, especialmente em comparação com as horas trabalhadas. O trabalho infantil também era comum, e tão difícil e mal remunerado quanto o trabalho dos adultos, senão mais. Crianças de ambos os gêneros trabalhavam nas fábricas, meninos e rapazes também conseguiam emprego limpando chaminés, cuidando de cavalos e outros animais, trabalhando em estaleiros ou fazendo entregas enquanto meninas e moças eram contratadas como empregadas domésticas, lavadeiras, babás e governantas, geralmente cuidando de todo o serviço das casas de família de classe alta quase sem folga, se tivessem a sorte de não ir parar nas ruas como prostitutas. As opções de lazer para essas pessoas era bastante limitadas, tanto pelo pouco tempo livre quando pela baixa renda que nem sempre permitia o “luxo” de gastos com divertimento. Então, não é nem um pouco surpreendente que os penny serials tenham ficado tão populares, afinal eram entretenimento barato.

Fábrica de tecidos em Witney, Oxfordshire, 1898 (fonte: Historical England Archive)

Temos que lembrar também que a reforma educacional apenas criou um sistema educacional de caráter rudimentar, cuja intenção era apenas prover uma educação básica que tornasse os trabalhadores mais capacitados. Ou seja, os jovens que desejassem ir mais além em sua educação tinham que “se virar” para ter acesso a mais livros e materiais de estudo, o que explicava a popularidade de periódicos e publicações baratas. A autora Anna Vaninskaya cita o testemunho de um chapeleiro chamado Frederick Willis, que ilustra bem a importância dos penny serials para esse público leitor em particular:

“(…) eles encorajavam a desenvolver um amor pela leitura que podia levar (as pessoas) adiante, a ir além no fascinante caminho da literatura. Foram os amados ‘bloods‘ que primeiro estimularam meu amor pela leitura e foi através deles que descobri a literatura de Shaw, Wells, Tackeray, Dickens, Fielding, Shakespeare e Chauncer.”

Não foram apenas pessoas comuns como Wilis que viam os penny serials como fonte de seu interesse pela literatura. Escritores famosos também foram ávidos leitores de penny serials em sua juventude. No conto “An encounter” James Joyce descreve os livrinhos baratos que circulavam nas escolas de Dublin, às escondidas dos professores, uma descrição que certamente vem de sua experiência pessoal. Já Robert Louis Stevenson, autor de “A Ilha do Tesouro”, um clássico da literatura infanto-juvenil, ao relembrar os penny serials que lia quando garoto, afirma: ”Nunca a leitura me divertiu tanto.”

No entanto, aqueles que viam os penny serials de forma positiva eram uma minoria no contexto da mídia do século XIX. Políticos, jornalistas e intelectuais em geral olhavam para o gênero com desprezo e desconfiança. Como já vimos, muitos deles afirmavam (não inteiramente sem razão) que o formato, rápido, sem revisão e ao sabor dos caprichos do público, prejudicava a qualidade do texto. No artigo “The Unknown Public”, publicado em 1858 na revista Household Words, Wilkie Collins (que um ano depois publicaria “A mulher de branco”, o romance sensacionalista pelo qual é mais conhecido até hoje) faz uma análise do público leitor da Inglaterra vitoriana, que ele vê dividido entre o público “conhecido” e “desconhecido”. O público “conhecido” seria formado pelos assinantes de revistas, jornais e outros periódicos, os clientes de livrarias e editoras, membros de clubes de leitura, etc. Já o público “desconhecido” era formado, principalmente, por leitores que consumiam a literatura vendida em edições baratas em bancas de jornais. Para Collins:

“O futuro da ficção inglesa pode estar nas mãos desse público desconhecido; um público leitor de três milhões que está além das fronteiras da verdadeira civilização literária, que está esperando para ser ensinado a diferença entre um bom livro e um livro ruim.

O que Collins insinuava ao fazer essa divisão é que a literatura de massa teria criado um público leitor incapaz de distinguir o que era literatura “de qualidade”. Essa é, claro, uma visão profundamente elitista, segundo a qual o hábito da leitura não teria valor em si mesmo. Ele precisaria passar pelo crivo do que seria boa literatura ou não, que seria sempre determinado pela parcela mais privilegiada da sociedade.

Mas a grande maioria dos detratores dos penny serials não estava preocupada com sua qualidade literária, e sim com sua possível influência negativa sobre um público que eles viam como “ignorante”.

Em seu artigo, Vaninskaya também fala sobre essa apreensão:

“Nos periódicos e críticas, os penny dreadfuls eram condenados ( e às vezes defendidos), culpados por toda ocorrência de crimes juvenis, e sujeitos a análises sociológicas e literárias negativas.(…) O ato de ler ‘penny literature’ era comparado com maus hábitos alimentares, com o consumo de ‘veneno’, danoso para a saúde mental, assim como uam alimentação de baixa qualidade era danosa para a saúde física. E a epidemia tinha proporções nacionais.”

Em 1895, o periódico Motherwell Times se referia aos penny serials como “lixo vomitado diariamente pela rua Fleet” (a maioria das editoras dedicadas ao gênero ficava na rua Fleet). Em 1896, a revista Pall Mall Gazette, chamava os penny serials de “o veneno que ameaça destruir a masculinidade e a democracia”. Esta afirmação especificamente, contém várias camadas de significado. Com a expansão do voto em 1884, que incluia todos os homens adultos, muitos temiam que as camadas mais pobres da sociedade pudessem conquistar uma influência política que as elites viam como “excessiva”. Havia, portanto uma preocupação com a influência da leitura de penny serials sobre os jovens eleitores que passariam a decidir o futuro da nação. O jornal Quarterly Review foi ainda mais longe: em um artigo de 1890, alertava que a leitura de penny serials poderia transformar os jovens em “agentes para derrubar a sociedade”. Entre os muitos receios da “boa sociedade” vitoriana, estava o medo de que as histórias contadas nos penny serials, com todos os seus criminosos, golpistas, aventureiros e outros personagens subversivos, poderiam inspirar os jovens da classe trabalhadora a se rebelar contra a autoridade e o status quo.

Havia também temores mais quotidianos. Por exemplo, o receio de que a leitura, em vez de melhorar a disciplina dos trabalhadores e aumentar sua produtividade como era esperado, apenas serviria para distraí-los de suas responsabilidades. Temia-se que os empregados das fábricas perderiam tempo lendo enquanto deveriam estar trabalhando. Porém algo preocupava os críticos muito mais do que a distração e a preguiça. Muitos, tanto entre a elite quanto entre o povo em geral, achavam que a leitura de penny serials poderia levar os jovens à criminalidade.. E nenhum evento exemplifica melhor essa mentalidade do que a polêmica que cercou o caso Robert Coombes.

O caso Robert Coombes: os penny serials no banco dos réus.

Robert Coombes tinha apenas 13 anos em 1895. Ele vivia em Plainstow, no lado leste de Londres com o imão mais novo Nathaniel, ou Nattie, de 12 anos e a mãe, Emily. O pai dos meninos, que também se chamava Robert, trabalhava em um navio a vapor transatlantico, e passava meses seguidos longe de casa enquanto Emily cuidava da família e das finanças com o dinheiro que ele enviava.

No verão de 1895, os vizinhos da família perceberam que os irmãos Coombes estavam passando muito tempo na rua sozinhos, e que ninguém via Emily já fazia alguns dias. Quando alguém perguntava por ela, Robert e Nettie respondiam que a mãe tinha viajado para Liverpool. Logo, os meninos começaram a andar com um homem de 39 anos chamado John Fox, que fazia bicos e pequenos seviços no escritório da National Steamship Company, empresa para a qual o pai dos garotos trabalhava. Segundo relatos da época, era possível que Fox fosse portador de doença mental, ou que tivesse algum tipo de transtorno de estresse pos-traumático, relacionado a um incêndio, na época em que trabalhava em navios. Como Fox tinha trabalhado com o seu pai, Robert teria ido “pedir ajuda” a ele, pois Emily estaria doente, e a família precisava penhorar alguns objetos de valor. Fox penhorou os objetos, fazendo-se passar pelo Sr. Coombes. Algum tempo depoins, ele foi até o escritório da National Steamship Company, levando uma carta escrita por Robert, na qual pedia um adiantamento de 4 mil libras do pagamento do pai para arcar com despesas médicas da mãe doente. Alguns dias depois o próprio Robert apresentou uma carta, supostamente escrita pelo médico da mãe, e pediu um novo adiantamento para custear despesas médicas, desta vez de 2 mil libras. Os dois adiantamentos foram concedidos.

Nesse meio-tempo, os vizinhos começaram a sentir um cheiro fétido vindo da casa dos Coombes. A princípio, acreditaram que o fedor vinha de um mecado de rua próximo, no qual havia muitos animais e estrume, mas conforme foi ficando mais forte, a desconfiança aumentou. Uma vizinha entrou em contato com uma tia paterna dos meninos, explicando a estranha situação. A tia tentou entrar na casa diversas vezes ao longo de duas semanas, mas foi impedida de entrar por John Fox, que àquela altura estava morando na casa. Quando finalmente entrou, com a ajuda do senhorio, a tia encontrou o corpo de Emily no quarto, já em avançado estado de putrefação.

Os irmãos Coombes e John Fox foram presos. Alguns dias depois, ao ser examinado pelo oficial médico da prisão de Holloway, Robert Coombes confessou ter assassinado a mãe a facadas, a pedido do irmão Nettie.

Detail from the Illustrated Police News report of the murder of Emily Coombes
Illustrações representando o crime e o julgamento dos irmãos Coombes, publicadas no periódico Illustrated Police News, em julho de 1895. (Fonte: The British Library)

Já dá para imaginar o impacto que deste crime escabroso teve sobre a conservadora sociedade vitoriana. O público ficou ao mesmo tempo horrorizado e fascinado com o caso, e logo se formou um verdadeiro circo midiático em torno dos irmãos Coombes, e principalmente em torno de Robert, o assassino confesso. Todos queriam saber o que poderia ter levado duas crianças a matar a própria mãe.

O caso era, é claro, extremamente complexo e havia diversos fatores a ser considerados. A ausência constante do pai de Robert e Nattie e o temperamento explosivo e violento de Emily foram apresentados pela defesa como evidência de que Robert teria matado a mãe para defender o irmão das agressões dela. Os Coombes também vinham passando por dificuldade financeiras, e Emily pretendia tirar Robert da escola, onde vinha apresentando problemas disciplinares, para que ele fosse trabalhar em um estaleiro, um trabalho particularmente pesado para um menino da idade dele. Havia também a presença de um homem adulto, John Fox, cujo envolvimento no crime ainda estava mal explicado. No entanto, a polícia decidiu focar a investigação em outro elemento: os penny serials, mais especificamente os penny dreadfuls, o subgênero mais lidos por adolescentes.

Vários livrinhos com histórias de aventureiros e bandidos foram encontrados em meio aos pertences de Robert Coombes e submetidos pela polícia como provas no inquérito junto com a arma do crime e outros objetos encontrados na casa. Os jornais imediatamente começaram a fazer reportagens destacando a lista de leituras de Robert Coombes e traçando uma relação de causa e efeito entre os penny serials e o crime. Mas, bem antes do caso Coombes, a os jornais vitorianos já estavam recheados de reportagens que associavam atos de delinquência juvenil aos penny dreadfuls. Desde meninos que fugiam de casa para buscar aventuras até assassinatos e suicídios, tudo o que crianças e adolescentes faziam de errado ou fora dos padrões rígidos de “normalidade” da época, caía na conta dos penny dreadfuls.

O assassinato de Emily Coombes, porém, foi o caso que mais chamou a atenção da opinião pública. O público acompanhava a investigação com a mesma sanha que hoje em dia seguimos o noticiário policial na tv e pela internet. Jornalista analisavam cada detalhe do caso com o mesmo afinco obssessivo dos mais sensacionalista programas vespertinos ao melhor estilo “pinga-sangue” da atualidade. E todos encontraram nos penny serials o bode expiatório perfeito.

Uma semana depois da prisão de Robert e Nettie Coombes, o jornal St. James Gazette encarregou um de seus jornalistas de analisar o conteúdo de cerca de 36 penny dreadfuls populares. Ele descreve a experiência como “repulsiva e deprimente”, e conclui que os jovens assassinos “com sua inteligência cientificamente desenvolvida à custa dos contribuintes, foram programados, através do estudo dedicado do pio tipo de ficção sanguinolenta, para encarar o assassinato como uma brincadeira.”. Nessa afirmação, o jornalista não apenas acusa os penny dreadfuls de influenciar os jovens da classe trabalhadora a cometer crimes, mas também insinua que o esforço de prover uma educação básica para estas pessoas teria, de alguma forma, facilitado a sua tendencia “natural” à criminalidade. Esta opinião preconceituosa e elitista logo foi replicada.

Diversos outros jornais seguiram o exemplo do St. James Gazette e fizeram reportagens criticando os penny serials e associando-os com o assassinato de Emily Coombes. Logo, se organizou um movimento que pedia a proibição dos penny serials. A proposta chegou a ser apresentado ao Parlamento, mas como uma investigação de 1888 já tinha estabelecido que não era possível estabeler um vínculo de causa e efeito entre a leitura de determinados tipos de literatura e a criminalidade entre jovens e crianças, a petição foi rejeitada. O estrago, no entanto, já estava feito. Os críticos tinham encontrado o caso que supostamente provaria suas teorias sobre a influência dos penny serials sobre as jovens mentes impressionáveis do Reino Unido.

Robert Coombes, adulto. Depois de cumprir a pena pelo assassinato da mãe, ele se mudou para a Austrália, ganhou uma medalha por seu serviço como oficial médico na Primeira Guerra Mundial e viveu o resto da vida como verdureiro. Seu irmão Nathaniel serviu na Marinha Australiana e morreu em 1946. Os irmãos nunca cometeram outro crime.

O declínio dos Penny serials

Se podemos aprender algo com a história da ascensão e queda dos penny serials, é que sempre há alguém esperto o bastante para se aproveitar do clima social para vender o seu produto. Com o constante ataque midiático aos penny serials, antes mesmo do caso Coombes vários editores já estavam pensando em algum tipo de produto literário alternativo que pudesse competir com os serials e atrair os os leitores.

Um desses editores foi Alfred Harmsworth.

Harmsworth lançou o periódico “The Half-Penny Marvel” em 1893, declarando sua suposta intenção de lutar contra a influência “nefasta” dos penny serials. O editorial do primeiro número afirma:

“É uma ocorrência quase diária que juízes vejam diante de si meninos que após ler vários dreadfuls seguiram o exemplo apresentado por essas publicações e roubaram seus patrões, compraram armas com o dinnheiro e acabaram fugindo de casa, indo parar nas ruas e estradas onde se tornam salteadores. Esse é um dos muitos males pelos quais o penny dreadful é responsável. Eles transformam as novas gerações em ladrões, e assim enchem nossas cadeias.”

Esse editorial, publicado antes do assassinato de Emily Coombes, demonstra que os penny serials já começavam a enfrentar tanta oposição dos críticos, que outras publicações estavam prontas para competir com eles usando o pânico do público para vender seus próprios produtos. Harmsworth não só usou a má fama dos penny dreadfuls como ferrmaneta de market, mas também baixou o preço de seu próprio periódico para a metade do preço dos concorrentes, o que levou as publicações concorrentes a serem conhecidas como “halfpennies”.

Os halfpennies inicialmente cumpriram a promessa de serem uma alternativa mais “respeitável” e barata de entretenimento para a classe trabalhadora. Depois do “Half-penny Marvel”, Harmsworth lançou também as revistas “The Union Jack” e “Pluck”, e outros editores seguiram seu exemplo, lançando periódicos mais baratos com histórias mais brandas e heroicas que os penny serials. Porém não demorou muito para que essas publicações também começassem a usar justamente as téticas que tanto tinham criticado nos penny serials. A.A. Milne, autor de livros infantis, entre os quais “O Ursinho Pooh”, ilustrou bem esse processo ao afirmar: “Harmsworth matou o penny dreadful pelo simples processo de criar um halfpenny dreadfuller (ou seja um produto com metade do preço, e mais “horrível”)”.

No entanto, conforme os half-pennies começaram a receber as mesmas críticas dos penny dreadfuls, seus editores tomaram a decisão de investir mais em qualidade e publicar texto que fossem, de fato, considerados mais adequados para o público infanto-juvenil. Esse processo foi incentivado pela concorrência de livros direcionados para o público jovem que começaram a encher o mercado editorial no início do século XX.

Aliás, o século XX colocou a pá de cal na publicação de penny dreadfuls. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o mercado e o público mudaram radicalmente. As dificuldades econômicas resultantes da guerra tiraram inúmeros jornais e periódicos de circulação e aqueles que resistiram tiveram que se adaptar. O público leitor já não tinha tanto interesse em histórias violentas. Afinal, já havia bastante sangue e tragédia no noticiário do dia-a-dia. O principal público-alvo dos penny serials, homens jovens e adolescentes, estava indo para o front. Ao voltar, esses rapazes, muitas vezes, vinham trazendo traumas profundos, devido à sua exposição à violência real do campo de batalha, o que provavelmente tornava a violência das páginas dos serials menos atraente. Nesse período, a revista “The Union Jack”, criada por Harmsworth, dominou o mercado de literatura para jovens investindo em aventuras com protagonistas certinhos e finais felizes.

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The Union Jack, número 228, de 1908 (fonte: wikicommons)

O legado dos penny serials, no entanto, é inegável.

Os penny serials provaram que havia um público leitor para literatura de massa. Segundo o jornal “The Guardian”, os penny dreafuls representaram “a primeira experiência britânica com cultura popular produzida em massa para os jovens. A polêmica sobre a a influência dos penny dreadfuls sobre os leitores mais jovens levou editores a começar a pensar em uma literatura mais adaptada para o público adolescente e também para crianças. Esse processo ajudou no florescimento do gênero infanto-juvenil na literatura inglesa, com a popularização de autores como Frances Hodgson Burnett (“O jardim secreto”), A.A.Milne (“O Ursinho Pooh”), Beatrix Potter (“A História de Pedro Coelho”) e Kenneth Grahame (“O Vento nos Salgueiros”).

Podemos dizer que, no contexto britânico, os penny serials representam a primeira forma de cultura “pop”. Colecionar revistinhas com histórias contadas em série, acompanhar seus personagens favoritos, escrever “fanmail” para o autor, tudo isso é muito familiar para nós. O público contemporâneo que consome cultura “pop” está acostumado a fazer tudo isso, temos nossas séries, videogames, filmes e livros, e os seguimos fervorosamente, acompanhando os personagens, interagindo com outros fãs, etc. Guardadas as devidas proporções, os leitores dos penny serials tinham uma experiência bastante parecida. O que torna muito interessante pensar que os penny serials inspiraram os quadrinhos que começaram a ser publicados na Inglaterra na década de 1870, e também influenciaram gêneros literários que se estabeleceram na época como o romance policial e as aventuras infanto-juvenis que formaram a base da cultura “pop” atual. Ao longo do século XX e XXI várias publicações, filmes, séries e programas de TV tiraram inspiração dos pennny serials, e diversos dos seus personagens apareceram em outras mídias, como é o caso de Sweeney Todd, personagem do penny blood “The String of Pearls” (“O colar de pérolas”), que já ganhou vida própria fora da história original, protagonizando um musical e um filme.

Sweeney Todd | Crítica | CinemAqui
“Sweeney Todd: O barbeiro demoníaco da rua Fleet, com Johny Depp e Helena Boham-Carter, direção de Tim Burton.

Mas isso é assunto para outro artigo. Então não perca a parte 2, na qual vamos falar dos personagens e histórias mais famosos dos penny serials, e dos filmes, séries, livros e quadrinhos inspirados por eles!

Materiais consultados

Livros:

Judith Flanders. The Invention of Murder: How the Victorians Revelled in Death and Detection and Created Modern Crime. London: HarperPress, 2011

Karina dos Santos Salles. Penny Bloods: O Horror Urbano na Ficção de Massa Vitoriana. Tese de Mestrado apresentada em 2015, ao Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense, Niterói.

Martin Priestman (org.). The Cambridge Companion to Crime Fiction. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

Patrick Batlinger & William B. Thesing (orgs.) A Companion to the Victorian Novel. Oxford: Blackwell Publishing, 2002

Stefan Dziemianovicz (org) Penny Dreafuls: Sensational Tales of Terror. GMP Group, 2017.

Artigos:

Alicia Zaloga & Wendy Trimboli. “Why pennydreadfuls scandalized Victorian society-but flew off the shelves” in crimereads.com

Anna Vaninskaya, “Learning to read trash: Late Victorian Schools and the Penny Dreadful” in Halsey, K., Owens, W. (Eds.) The History of Reading. Vol 2. Pallgrave/Macmillan, 2011

Courtney Kimball “Sweeney Todd’s Dreadfuls and Mass Readership”. The Journal of Publishing Culture Vol. 7, abril de 2017.

Kate Summerscale. “Penny dreadfuls: the Victorian equivalent of video games”. The Guardian, 30 de abril de 2016.

The London Hermit (Walter Parke). “The Physiology of ‘Penny Awfuls’” in The Dublin University Magazine, setembro de 1875

Patrick Dunae. “Penny Dreadfuls: Late Nineteenth-Century Boys’ Literature and Crime”. In: Victorian Studies, v. 22, n. 2, inverno de 1979

Um comentário em “Aventura, crime e horror: O mundo dos infames Penny Serials Vitorianos. [Parte 1: Escapismo, literatura e delinquência]

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